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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Com 24% dos internautas do mundo, web chinesa é espaço para opiniões


Menos controlada que mídia tradicional, internet reúne críticas e pressões.
Jornal estatal já pediu que líderes comunistas participem de redes sociais.


Paula Ramón
Especial para o G1, em Pequim

Cansado de escutar o seu cachorro latir enquanto assistia à televisão, um homem jogou o animal pela janela do 18º andar de um edifício, em Pequim. O bicho caiu sobre o vidro de um carro e, em segundos, atraiu uma pequena multidão, que fez fotos e as publicou no Sina Weibo, a versão chinesa do Twitter, que é bloqueado no país. O cantor pop Huang Yong apareceu no local, momentos depois, atraído pelas mensagens na web, e resgatou o cachorro da raça bichon frisé. A polícia também apareceu e deteve o dono do cão na mesma noite, em agosto.

"Temos liberdade de expressão, mas o governo também tem a liberdade de apagar tudo o que escrevemos"
Han Han, blogueiro mais lido da China
Com 24% do total de usuários no mundo, a internet chinesa tem força e rapidez, apesar da censura oficial. Em uma década, o país cresceu de 59 milhões para 538 milhões de internautas. A estimativa é que o número aumente para 718 milhões ao longo do ano que vem. Mais da metade dos usuários é formada por jovens urbanos, que passam, em média, 18,7 horas por semana conectados. Menos controlado do que as ruas e a mídia tradicional, o mundo virtual é, cada vez mais, espaço onde chineses expõem suas opiniões, questionam e pressionam o governo em temas diversos, como poluição, corrupção e custo de vida.
post branco han han 300 (Foto: Reprodução)
Post em branco de Han Han em homenagem ao
Prêmio Nobel Lio Xiaobo (Foto: Reprodução)
É um jogo de gato e rato. Do lado do governo, há um sofisticado sistema de monitoramento e censura. Posts indesejáveis nos microblogs são rapidamente apagados. Palavras "sensíveis", como o nome do artista dissidente Ai Weiwei, estão bloqueadas nos sistemas de busca. A linha-dura do governo acaba tornando-se um incentivo à criatividade dos internautas, que recorrem a trocadilhos e palavras em código para contornar a censura.

Blogueiro mais lido da China – e, por extensão, do mundo –, o escritor e piloto de corridas Han Han tem mais de 500 milhões de visitas acumuladas no seu site. Em entrevista recente ao jornal "Financial Times", ele resumiu a situação. "Apesar de não termos 100% de liberdade na hora de escrever, temos um melhor ambiente do que muitos ocidentais imaginam (...) Temos liberdade de expressão, mas o governo também tem a liberdade de apagar tudo o que escrevemos."
Como a proximidade do Congresso Nacional do Partido Comunista, a internet no país ficou ainda mais controlada. O serviço de correio Gmail tem sido praticamente impossível de usar nos últimos dez dias. O uso do proxy – que permite "pular" a muralha virtual e conectar desde outros paises – também está sendo atacado, o que significa que nem utilizando a ferramenta é possível ter acesso aos sites bloqueados. Um funcionário da companhia Witopia – que oferece estes serviços – confirmou que as conexões estão sendo derrubadas e que não há muito a ser fazer.

Internet da China (Foto: Arte/G1)Web como ferramenta política
Pesquisa da consultora McKinsey & Company mostrou que 16% dos internautas chineses (86 milhões de pessoas) se dedicam principalmente a opinar. Os temas de maior interesse, no entanto, não são diretamente políticos – a vida cotidiana é uma das preocupações, além de uma atração por celebridades.
A brasileira Fernanda Morena, mestranda em China contemporânea pela Universidade do Povo, explica que "existe um debate sobre política na vida cotidiana – como o aumento do preço da gasolina, a inflação, o investimento em infraestrutura. São coisas que mostram que chineses, como as outras populações, não são alienados, nem por vontade própria nem por força".
Outro fenômeno que ocorre na China é que redes sociais passaram a substituir a imprensa tradicional como fonte de informação. Muitos acontecimentos censurados nos jornais e TVs têm circulação bem mais fluída no weibo. Um exemplo ocorreu em 2010, quanto o ativista Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão, ganhou o prêmio Nobel da Paz. Seu nome foi bloqueado no site, mas circularam apoios na internet de forma criativa, como usar caracteres com som parecido e, no caso de Han Han, um post em branco apenas com um par de aspas. Os códigos, muitas vezes difíceis de decifrar, não têm o alcance de uma informação direta, mas mesmo assim são apagados quando decifrados pelos censores.
Neste ano, o governo chinês bloqueou os sites da "Bloomberg" e do "New York Times" depois que os veículos publicaram duas pesquisas sobre negócios familiares do futuro presidente, Xi Jingping, e do atual premiê, Wen Jiabao. Na semana passada, durante o furacão Sandy, muitos internautas ironizavam dizendo que, na China, era mais fácil saber o que acontecia nos Estados Unidos do que entender o que acontecia com a cúpula do Partido Comunista em Pequim.
Um editorial do estatal "Diário do Povo", publicado no ano passado, estimulava integrantes do Partido Comunista a se adequar aos tempos e fazer uso das ferramentas virtuais para assegurar a comunicação com o país. O jornal, porta-voz do Partido, instruía os membros a deixar a "fala burocrática" e buscar uma linguagem que chegue à geração da era virtual. A posição reflete que o governo decidiu participar, e não só bloquear.
Morena acha que, "na internet, as coisas acontecem muito mais rapidamente. Os usuários são mais rápidos do que os censores, e, ainda que alguns casos fossem censurados, a história teria já saído antes mesmo de os censores terem tempo de controlar".
Estudiosa das relações entre política e internet na China, ela afirma que, "para o governo central, é interessante ter esse esquema de denúncia em governos locais, pois é comum essa prática da punição de um indivíduo como exemplo e/ou para apaziguar os ânimos. Acho que a internet não será a responsável pelo eventual fim do poder comunista; contudo ela exerce um papel de tornar público problemas de dentro do governo".
Congresso marca troca de líderes
O Partido Comunista da China dá início nesta quinta-feira (8) ao seu 18º Congresso Nacional, que oficializa a troca de cúpula de líderes da potência econômica, com a substituição do presidente Hu Jintao por seu sucessor Xi Jinping, vice-presidente do Estado chinês desde 2008.
No momento de atenções voltadas às eleições nos Estados Unidos, onde Barack Obama foi reeleito, o país mais populoso do mundo, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, realiza o evento cuidadosamente coreografado, formalmente o mais importante do país.
No papel, o congresso que ocorre a cada cinco anos tem como missão principal endossar os principais líderes, decidir o rumo político e econômico da nação e reformar a Constituição. Na prática, no entanto, é formado por milhares de "figurantes", e deve apenas carimbar decisões previamente acertadas por sua cúpula, em reuniões fechadas e secretas.
'Mais reformas democráticas'
O presidente da China, Hu Jintao, pediu nesta quinta "mais reformas democráticas" no país, em seu discurso de abertura do 18º Congresso do Partido Comunista (PCC). "A reforma da estrutura política é uma parte importante das reformas globais da China. Devemos continuar nossos esforços, ativa e prudentemente, para prosseguir na reforma da estrutura política e ampliar a democracia popular", declarou Hu Jintao diante dos 2.000 delegados.

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