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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Crédito fácil e sem orientação do governo cria superdívidas, diz Procon


Aiana Freitas
Do UOL, em São Paulo

As políticas do governo de incentivo ao consumo, baseadas na redução de impostos e na pressão pela queda dos juros, são importantes para estimular a economia, mas também têm levado à criação de consumidores superendividados, diz a assessora-executiva do Procon de São Paulo, Vera Remedi.
Desde o começo de outubro, ela coordena o Programa de Apoio ao Superendividado do Procon-SP.
Em pouco mais de um mês de funcionamento, o serviço já atendeu 163 pessoas com o problema. Segundo o balanço inicial, 42,7% das pessoas que foram diagnosticadas como superendividadas ganham até R$ 1.000 por mês.
"Existe uma falta de orientação, por parte do governo, sobre os cuidados que as pessoas devem ter ao assumir crédito de longo prazo", diz Vera Remedi.
Mas não é só o governo que ela cobra. Os bancos também têm responsabilidade. As campanhas educativas feitas pelos bancos não têm sido suficientes para evitar o uso indevido do crédito, avalia.
Leia a seguir, os principais trechos da entrevista que ela concedeu ao UOL.
UOL - Quem o Procon classifica como superendividado?
Vera Remedi -
 É aquele consumidor que está com dívidas vencidas ou a vencer muito acima da sua capacidade mensal de pagamento. Ele não consegue honrar o compromisso sem comprometer o sustento próprio da sua família.  As dívidas estão tão altas que, quando ele paga todas elas, não sobra dinheiro para arcar com as despesas básicas.
Que tipo de problema que mais leva ao superendividamento?
As pessoas estão se superendividando por causa de contratos de crédito que elas não conseguem honrar adequadamente. Muitas assumiram muitos contratos ao mesmo tempo, até pela facilidade de acesso, e perderam o controle. Isso faz com que elas paguem o mínimo do cartão de crédito e usem o limite do cheque especial. Em geral, as pessoas que estão superendividadas fizeram uso das linhas de crédito sem muita organização e sem ter tido muito esclarecimento de como elas linhas funcionam.
As pessoas não têm a percepção de quanto estão pagando de juros, não sabem o que acontece quando não pagam a fatura do cartão de crédito integralmente. Elas só vão perceber depois que a dívida começa a aumentar muito. E existem, claro, outras causas que levam ao superendividamento, como redução de renda, desemprego, problemas de saúde.
Como a senhora vê os estímulos que o governo tem dado à concessão de crédito e ao consumo, como reduções de imposto e pressão por corte de juros?
Por um lado, o governo tem de incentivar o crédito para que haja crescimento econômico. Por outro, é preciso conscientizar os consumidores. Existe uma falta de orientação, por parte do governo, sobre os cuidados que as pessoas devem ter ao assumir crédito de longo prazo. Até programas como o Minha Casa Minha Vida podem acarretar problemas quando a pessoa não faz um planejamento adequado. É necessário que, paralelamente ao incentivo ao crédito, existam mais campanhas de esclarecimento.
Muitos fornecedores também oferecem limites de crédito para pessoas que não têm condições de honrar o pagamento. Quando abre uma conta corrente, o consumidor já tem um limite de crédito pré-aprovado, o cartão de crédito já vem com limite alto. Muitas vezes, a pessoa que não tem uma boa orientação sobre como usar essas linhas de crédito acaba perdendo o controle.
Vários bancos têm feito campanhas de educação financeira. Elas não são suficientes?
Elas estão muito aquém do necessário. Não basta fazer campanhas e, na prática, não orientar o consumidor quando ele está adquirindo o crédito. As campanhas de educação financeira não são suficientes se não forem concomitantes com uma ação de educação efetiva. E a educação se dá quando o credor, o gerente do banco, a pessoa que oferece o crédito, efetivamente explica como funciona aquela linha.
Existe um perfil psicológico padrão dos superendividados?
Existem pessoas que têm descontrole do impulso, o que faz com que elas comprem sem ter controle para gastar dentro das suas condições. Elas podem ter compulsão por compras. Mas este não é o perfil que predomina no programa do Procon.
O que se verifica é mais um descontrole do orçamento doméstico, a falta de organização financeira e a falta de orientação dos credores. Estamos trabalhando muito com a questão da psicologia econômica. As pessoas não percebem como elas mesmas atuam quando tomam decisões. Normalmente, os consumidores tomam decisões atuando muito mais pelo lado emocional do que pelo lado racional.
Sem se darem conta dessa forma de atuação, elas acabam agindo por impulso e  caindo em ciladas, como otimismo excessivo, fazendo cálculos mentais equivocados. A gente procura orientar as pessoas de que elas têm de conhecer os seus mecanismos mentais para que possam atuar de forma mais consciente, tomando decisões mais de acordo com seus interesses.

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